19/08/13

Crítica de José Barros a Conversa com o Homem Roupeiro


"Na qualidade de espectador da peça "Conversa com o Homem roupeiro", tive a oportunidade de assistir à sua representação pelo CTB. E se o texto de Ian McEwan é, de facto, fantástico, não só pelo drama social que apresenta, levando o público a refletir sobre uma realidade presente em todos tempos da Humanidade, mas também pela profundidade da sua mensagem, não é menos verdade que tal texto só conseguiu ganhar a dimensão que lhe é devida e reconhecida graças à excelente interpretação do ator Rui Madeira.
Confesso que a sua interpretação me surpreendeu de forma bastante positiva, pois o ator Rui Madeira conseguiu transportar através da sua arte o mundo vivido pelo Homem roupeiro, levando o espectador a viver cada momento dramático da história da sua vida. Recordo, em especial, o relato da cena do forno que, por ser brilhantemente contado e interpretado pela personagem, conseguiu captar o dramatismo da situação vivida a ponto de transportar magicamente o espectador para o interior desse forno. 
Diga-se, em boa verdade, que o texto é exigente não só por se tratar de uma espécie de monólogo que exige do ator uma concentração extrema, mas também um esforço físico hercúleo. Nesse sentido, creio que  ator Rui Madeira se apresentou no seu melhor, quer na construção da sua personagem, quer no seu desempenho, bem acompanhado pelo comparsa que teve também um papel muito importante nesta história, já que o seu desempenho em palco não se remeteu ao silêncio, mas à forma como foi reagindo às palavras do Homem roupeiro. A verdade é que estar em palco, sem dizer uma única palavra e apenas comunicar através do gesto, expressão ou movimento, é já por si uma tarefa exigente que não está ao alcance de qualquer ator. 
Por isso, gostaria de expressar nesta singela crítica ao espetáculo "Conversa com o Homem roupeiro" a minha satisfação e gratidão por ter assistido a uma bela representação dos atores da Companhia de Teatro de Braga, um espetáculo que conseguiu sacudir as consciências e alertar o espectador para uma realidade cada vez mais presente nos nossos dias.
Nem sempre conseguimos entender o mundo dos marginais e as suas razões, ou porque simplesmente não queremos ou porque estamos numa situação confortável e esse facto provoca-nos um sentimento de culpa. E se a arte consegue, de facto, despertar e fomentar no espectador um sentimento de humanidade e solidariedade para com o próximo, julgo que só por si já está a cumprir o seu papel na sociedade: para além da componente cultural, uma função social e pedagógica. 
Parabéns, CTB!" (José Barros)