Mafalda Canhola e João Delgado Lourenço, em Humidade, de Bárbara Colio (foto João Vilares) |
28/03/18
Brinde ao Teatro
É com enorme prazer e gratidão que, no Dia Mundial do Teatro, recebemos as mensagens da Câmara Municipal de Braga e do pelouro da Cultura, de reconhecimento do trabalho e do contributo da Companhia de Teatro de Braga para o desenvolvimento cultural da cidade.
Tocou-nos, particularmente, a calorosa mensagem [abaixo] do Doutor Miguel Bandeira (Vereador do Urbanismo, Planeamento, Ordenamento e Mobilidade) que, em dia de estreia do nosso mais recente espectáculo, Humidade, e no contexto actual da Cultura no nosso país, nos dá um novo alento na prossecução da ideia de que o Teatro torna melhores aqueles que o fazem e aqueles que nos assistem.
Um brinde ao Teatro e a todos quantos amam esta nobre arte!
"Porque hoje é um grande dia, ainda que a hora a que te escrevo seja provavelmente a de função, apenas para te enviar um grande abraço de admiração e amizade pessoal, e a todos os que fazem Teatro na Companhia, em Braga, um projeto consolidado e exemplar de descentralização cultural entre nós. Com o reconhecimento pródigo de quem, como eu, quando cá chegou, não mediu o alcance da obra. Hoje tenho que reconhecer que sem vós, esta terra era culturalmente muito mais pobre, pelos contributos diretos e indiretos têm dado. Parabéns!
Viva o Teatro!!
Abraço forte do Miguel"
13/03/18
O ARCO-ÍRIS
de Abel Neves
A palavrinha austeridade que tanto valor tem, ou pode ter, nas escolhas que fazemos pela vida fora é demasiado nobre para ficar reduzida a um propósito circunstancial de organização política e social e, posteriormente, cristalizada num escombro de resgate económico. A austeridade tem liberdade dentro mas essa é uma outra história. É absurdo que uma pessoa venha a este mundo para que boa parte da riqueza do seu trabalho seja aplicada na salvação de Bancos e de banqueiros. O capitalismo mais esperto sabe que é possível integrar os que o condenam, fingindo acautelar interesses que não sejam apenas os do lucro e desfalecendo até um pouco no usufruto do valor da mais-valia, criando a ilusão de que parte dele se aplica no reforço de bens sociais necessários, entre eles – vamos agora adiantar - os bens culturais.
Fácil é compreender que depois de uma época, mais ou menos longa, de compressão, trapalhice e canalhice, emerge uma outra, descompressora, irradiando um arco-íris de ponta a ponta na geografia, relembrando - sem instigar ao saque - que há potes de felicidade no horizonte. Uma época seráfica, pois, em contraponto a um calendário de vergonha em que a vida da maioria das pessoas foi violada, se desbarataram e alienaram recursos sob a protecção de um voto democrático maioritário. Sempre se pensa se alguém com poder político - seja quem for com o dever cívico de ter sido eleito para um cargo público - tem o direito de esbanjar património, ou negociar, para proveito privado – seu ou de outrem - uma riqueza que é de todos, mas a pouco e pouco habituámo-nos ao controlo do Estado por parte de quem quer, efectivamente, regular os comportamentos sociais, e regular para melhor controlar. O dinheiro, o poder que dele emana, continua a ser pensado como um sopro quase divino.
Existe, por isso e simplesmente, uma ideologia a florir no dinheiro. Pode ser contrariada? Em boa hora houve aqui na Lusitânia um conluio político para uma nova e arejada maioria. Um arco-íris talvez pudesse acender-se na paisagem. Novos e inteligentes pensadores e cientistas da economia e das finanças tomaram conta das contas públicas e afins. Parece não haver qualquer dúvida sobre benefícios que estão a ocorrer na vida colectiva, salvaguardas económicas, crescimentos e optimismos. A feliz propaganda da imagem de uma histórica nação europeia a emergir muito positivamente de um resgate – patrocinado antes por agiotas e vendilhões - um país pacífico e empreendedor, repleto de simpatia e de belezas naturais acessíveis, não distante dessa outra imagem de marca que foi a do "país à beira-mar plantado", gastronomicamente imbatível, pronto a receber qualquer cidadão do mundo depois da triste e desonrosa partida de milhares de qualificados emigrantes, alargou muitíssimo o panorama das possibilidades de evolução e riqueza económica e de desenvolvimento social. Exportações bem sucedidas, e outras que se aguardam, investimentos, muita disciplina social e, sobretudo, o Turismo, vão dando luz e água ao arco-íris. No entanto, ainda que o fenómeno esteja aceso e alguns tentem esbater muitíssimo as suas cores, existe, aquém dos horizontes e além de nós, mas fabricado por uns tantos que se pretendem ocultos por aí, um espectro ideológico.
E é por agora que a pintura fica borrada porque se a vida faz sentido é com os fenómenos de Cultura e no que diz respeito aos fenómenos de Cultura, a esquerda política actualmente no poder tinha a superior obrigação de ser radicalmente diferente, obviamente para melhor, dos precedentes gestores e funcionários de libré, e mostrar, revelando ideologicamente, que as economias existem porque assim o determina a Cultura. É a Cultura que obriga à existência da economia e não o contrário. Um simples acto de manipular os dígitos numa operação financeira é um acto cultural, de visibilidade quase oculta, mas cultural. O idílico ócio sonhado com o dinheiro não é mais que um aparato também ele de raiz cultural. Por muito que queiram impor-se na vidinha de todos, as descargas sociais da economia nunca terão a grandeza da Arte ou do pensamento filosófico ou religioso.
Os sistemas económicos vão regendo os artifícios, os mecanismos, é certo, mas a arte e o pensamento dirigem a vida. Então, depois desta borrada nalguma linhas, o que venho aqui dizer? Que é uma vergonha o que se está a passar com a contribuição do governo – que deveria ser uma obrigação de Estado – para com as necessidades de desenvolvimento estrutural das diversas instituições culturais que vêm desempenhando o seu trabalho desde sempre. Há muita realidade desagradável, infeliz, oculta atrás da cortina com que se abrem e fecham os espectáculos artísticos, e em particular os propriamente designados "de teatro", mas não vale a pena sequer pensar que o teatro acabará porque os gregos não o inventaram para que uns quaisquer bichos-caretos o tentem amesquinhar uns séculos adiante, mas também não é porque sabemos que jamais acabará que podemos negligenciar as responsabilidades que nos cabem na defesa da sua evolução e respeito pelo esforço de todos os que aqui vieram antes de nós.
Para um dramaturgo que sobrevive do acto teatral e dele não pode estar alheado – esperando até ainda que um dia Almeida Garret seja nomeado director do teatro que fundou – a sua expectativa quanto ao respeito que a arte dramática deve merecer dos governos é certamente equivalente à dos outros contribuintes artísticos, dos técnicos aos comediantes. Em legislaturas anteriores, quando as cabecinhas pensadoras decidiram que a Cultura não era merecedora de estatuto ministerial na representatividade governativa, o Carmo e a Trindade foram caindo aos poucochinhos e as actividades culturais lá se viram no constrangimento vergonhoso, mas, claro, tradicional, e se é tradicional num país amigo das tradições a coisa parece que é para valer. Recentemente, o arco-íris deu em subir novamente a categoria e a Cultura virou Ministério e o que estamos todos à espera de saber é a diferença que anda a fazer o dito cujo na relação que se desejaria, no mínimo, saudável com quem se dedica à vida cultural e para que a tal Cultura tenha a luminosidade que se exige, e já agora a responsabilidade, e para a qual – na sua criação e defesa - todos somos, e bem, sistematicamente examinados e avaliados, embora, também sistematicamente, se menorize, a graus que roçam o desrespeito, o trabalho intenso, devotado e qualificado das gentes das artes.
Não é demais reafirmar que as obrigações constitucionais do Estado para com as actividades culturais não podem depender dos caprichos de um qualquer governo e, sobretudo, devem ser pensadas não como um frete a uns tantos vocacionados, mas como um necessário investimento, valorizando o património e os recursos, garantindo a validade do que já fez e dos que ainda estão, e a qualidade dos que hão-de vir. Um Ministério da Cultura não pode existir apenas porque se diz que existe. É menos que zero se assim for, ou talvez exista como a célebre faca surrealista, sem cabo e sem lâmina. A indesculpável situação criada em volta dos atrasos no apoio às actividades culturais, nomeadamente, teatrais, faz pensar que não há inocência. Há, sim, ideologia. E as ideologias nefastas devem combater-se. E fica bem relembrar o que, então em plena segunda guerra mundial, Winston Churchill, conservador, terá dito a um responsável do governo quando este sugeriu fazer cortes orçamentais no universo da cultura atendendo ao esforço que era necessário fazer por causa da guerra: “Nem pense! – disse o estadista -Então estamos a fazer esta guerra para quê?” Há exemplos que vão alimentando as cores do arco-íris.
Senhoras e senhores do Ministério da Cultura, falem, digam qualquer coisinha, mexam-se. O que vamos sabendo, publicamente, pelos jornais – e, claro, não se deseja a ninguém - é que o Senhor Ministro teve a infelicidade da sua casa ter sido assaltada. Mais não sabemos, e é muitíssimo pouco. Há males que ficam feitos e uma coisa é certa: se estão a pensar em eleições é bom que pensem que há votinhos que se perdem e que podem decidir muita coisa, mas o problema nem está no votinho: no seu atavismo congénito, o país continua adiado, meio abúlico, afogando-se, mais ou menos iludido, nas ondas avassaladoras do turismo dos ovos-de-ouro. Nas suas paisagens de sedutores litorais – também pasto de startups - ressoam, além do cacarejar das galinhas poedeiras, os discursos bonitinhos para inglês ver, enaltecendo índices económicos, números de crescimento – para o qual, sempre querem fazer esquecer, a Cultura tem acentuado valor – e, aqui e ali, convocando os catedráticos do empreendedorismo mas esquecendo os que trabalham no húmus e mantêm vivo o lume.
Austeridade, pois, mas por inteligência, devoção e livre vontade, não por martelada nas consciências e por mão alheia, canalha. O teatro sempre cumpre os seus desígnios. De uma vez por todas, deixem-se de poses seráficas e cumpram, vossas excelências, as vossas obrigações.
"A cigarra e a formiga" - água-forte, Dominique Sornique e Jean-Baptiste Oudry (séc. XVIII) |
07/03/18
Mulheres têm entrada gratuita em "Imprudência"
No dia 8 de Março, Dia
Internacional da Mulher, nós, Companhia de Teatro de Braga (CTB), prestamos
homenagem a todas as Mulheres oferecendo a entrada no nosso espectáculo “Imprudência”.
Ivan Turguéniev escreveu, em
1843, “esta pequena paródia sobre o romantismo grandiloquente” a partir (pensamos
nós) da sua “pasión española” chamada Pauline Viardot-García, uma mulher
enigmática, cantora de ópera, pianista excepcional, casada com um francês. O seu
enorme talento fez com que toda a nata da intelectualidade europeia do seu
tempo, e de ambos os sexos, se enamorasse devastadoramente dela.
Esta interpretação da CTB centra-se,
segundo o encenador, Rui Madeira, nestes tempos “da pós-verdade em que, parece, já só nos resta “assistir à
representação do Mundo” interpretada por um grupo de pequenos palhaços baratos,
saídos nem sabemos de onde, surgidos do Nada, arrogantes e ufanos de uma
grandeza conquistada no desequilíbrio das redes.”
No mesmo sentido, é uma crítica a
este perpetuar da visão do séc. XIX sobre o papel da Mulher na sociedade e o
contínuo desrespeito pelos seus direitos, a que ninguém pode ficar indiferente e todos
temos a responsabilidade de alterar.
“Imprudência” é 134ª produção da
CTB e estreou em 9 de Janeiro, deste ano. Regressa a cena de 6 a 8 de Março e
as sessões têm início às 21h30, no Theatro Circo de Braga.
Solange Sá no papel de Dolores, em "Imprudência". |
02/03/18
Oficina de Escrita Teatral dirigida pela autora de "Humidade"
A Companhia de Teatro de Braga
(CTB) organiza, de 24 a 26 de Março, em Braga, uma Oficina de Escrita Teatral, dirigida pela dramaturga e directora de
teatro mexicana, Bárbara Colio.
Esta Oficina surge como uma
actividade complementar à produção do espectáculo Humidade - texto de
Bárbara Colio e encenação de Rui Madeira - e insere-se no âmbito do projecto de
formação de públicos de teatro da CTB, BragaCult,
conta com o apoio do Festival Internacional de Dramaturgia Contemporânea - Dramafest - e da Secretaria de Cultura do México.
Os interessados nesta Oficina – limitada a 12 participantes - terão de
ser maiores de 18 anos com alguma experiência em teatro (actuação, direcção,
dramaturgia), em escrita ou espectadores assíduos e interessados no tema. Após
a confirmação da inscrição, enviaremos os textos de leitura prévia obrigatória,
Humedad
e Cuerdas, da autoria de Colio.
Os objectivos da Oficina de
Escrita Teatral são: onde encontrar histórias; saber o “que” se vai contar;
conhecer e experimentar com os elementos da composição dramática, para decidir
o “como” se vai contar; provocar o pensamento em função do drama.
Os interessados deverão enviar um
email para bragacult@gmail.com, até
dia 9 de Março, com os seguintes dados: nome, idade, telefone, profissão.
Os participantes, serão
convidados para a ante-estreia de Humidade,
dia 26 de Março, às 21h30, no Theatro Circo.
Bárbara Colio é uma dramaturga e directora de teatro
mexicana. Até à data, as suas obras foram lançadas em Espanha, Portugal,
França, Nova York, Inglaterra, Itália, Argentina, Peru, Costa Rica, Brasil, e
em vários locais do México. Possui mais de 15 publicações, entre as quais
"Das famílias e outras catástrofes "(Editorial Paso de Gato). O seu
teatro recebeu vários prémios e reconhecimentos nacional e internacionalmente.
Em 2017, devido à sua carreira e contribuição para o teatro mexicano, foi
galardoada com o prestigiado Prémio Juan Ruiz de Alarcón.
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