30/05/11

Discurso do director da CTB na sessão de assinatura do protocolo com a DST para apoio mecenático
Braga, 27.05.2011

Boa noite

O que nos traz aqui hoje é mais, muito mais do que aqui estarmos.

Hoje. Aqui, somos uma pequena metáfora do mundo. Somos um pequeno istmo, ainda preso a qualquer continente. Somos um ponto geográfico, quiçá ignorado, antes e depois da Catástrofe. Somos nós. Cada um de nós. Presos aos valores que assumimos. À força e à capacidade de luta que sabemos ser a nossa.

Certos e conscientes do nosso querer, do nosso saber, do nosso profissionalismo, da nossa consciência, que nos deixa dormir rápido e que nos permite acordar depressa, na urgência do muito que temos pela frente, em cada manhã que começa.

Sim. O que nos junta hoje aqui é mais do que o acto. É a celebração de vontades e de quereres. É a assunção do Acreditar. Em nós. Em projectos. Na Cidade. No País.

Há uma certeza única no estarmos hoje aqui. A de sabermos que nada acaba aqui. Agora!

Abramos então a fala e verbalizemos a Vida sem medo. Afinal, o grande legado do qual somos testemunho e razão de existência.

Falemos Claro e alto, sobre nós, a nossa história, as nossas histórias. As nossas Vidas. Sejamos exemplo e exemplares na partilha. E falemos claro.

Há 30 anos éramos diferentes, mas éramos nós. A DST e a CTB, o José Teixeira e o Rui Madeira. O pai e a mãe Teixeira, o Quim, o Avelino, o Hernâni. E a Bustorff, o Péssimo, a Regina, o Rui Jacques, a Manuela, e os actores, todos os actores. Éramos mais jovens. Mas éramos nós. Tínhamos objectivos, sabíamos porque lutar. Dissemos coisas, afirmamos coisas e o estarmos aqui hoje é exemplo vivo da assunção e valor da Palavra.

Não estamos sós! Não poderíamos estar sós! Estamos aqui! No nosso posto. No nosso Lugar.

Neste Lugar. No Lugar da Cidadania. Na luta pelo aprofundamento da Democracia. Por fazer cumprir os ideais republicanos, no cumprimento da pólis. Preocupados com o país.

Uma Empresa que assume, há muito, o pioneirismo de partilhar com a Comunidade a sua responsabilidade social, através do apoio à Cultura. Que devia ser ouvida e observada como exemplo a seguir. E uma Companhia de teatro que, assumindo a sua função matricial de criação artística, não abdica, nunca abdicou, de contextualizar essa mesma criação numa esfera de Cidadania e discussão da Pólis.

Hoje, a Europa habita-se mal. Já ninguém quer raptar esta ex-jovem Europa. Caminhamos no meio do branco. Um branco cada dia mais frio, cada dia mais gelo. E cada dia mais branco. Começamos a arrefecer. O sangue gela-nos o corpo, batemos com os pés. Esticamos os dedos e riscamos o gelo. E não avançamos. Caímos. Mas recusamos morrer ao pé da porta.

Estamos na ponta da Europa e escorregamos deste gelo para o mar. E estamos frios.

Já não habitamos o país. Portugal é agora um rectângulo de gelo, uma pista. Andamos à deriva, empurrados pela deriva mental de alguns. A Europa já não se quebra por este lado. A Europa estilhaça-se qual mosaico. Somos agora um grupo de jangadas apinhadas de sobreviventes. Frios. Gelados. Sem sangue quente. Exangues. Pedras, prestes a afundar-se.

E é nesta Europa naufraga e neste Pais de p., de Pedras que sobrevivemos hoje. E é contra a avalancha de gelo e a derrocada iminente, que estamos aqui, HOJE, neste Lugar. Não estamos sós, mas também não estamos mal acompanhados.

E nesta atmosfera branca que nos fere os olhos, mas que não nos consegue ainda cegar, quero dizer alto, que agradeço vivamente a ausência da Senhora Ministra da Cultura. A Candidata do PS por Braga, Gabriela Canavilhas.

País de escorrega este. Braga, parque de pequenas diversões, para onde foi atirada uma ministra que nada fez, para lá dos discursos de circunstância e de tocar no piano emprestado à força, quando estava chateada, em lugar daquilo que devia fazer: Política.

A Política, tal como o Teatro, é uma arte Nobre. Só os melhores podem e devem ser eleitos.

Fraca candidata que, enquanto Ministra, deixou escorregar o orçamento da Cultura para 0,4 % do orçamento e que num passe de mágica valoriza o grau de indigência onde a Cultura foi alcandorada, justificando-se com números que, ela mesmo, sabe injustificáveis. E que num arroubo de arrogância e despudor intelectual avisa que, e cito “a expressão falta de estratégia é usada por quem não consegue identificar do que realmente se queixa.”

Mas no deambular por este deserto branco, gelados, com esta pasta de sangue a engrossar-nos as veias, reafirmamos a Vontade, o Querer, a Determinação, para Lutar por um país onde a Cultura seja, efectivamente, um vector estratégico do nosso devir colectivo. Recusamo-nos a morrer à porta!

Estamos hoje aqui para celebrar a Cultura. Afinal a vitamina que nos fará sair deste vil torpor.

Estamos aqui para assinar mais um protocolo de apoio da DST à CTB, para o biénio 2011/2012.

Aqui, neste Teatro Circo, forte aposta do Município de Braga. E aqui, quero manifestar também o reconhecimento da Companhia para com a Câmara Municipal de Braga e o seu presidente, para com a empresa Peixoto Rodrigues & Filhos, Lda. e para com o Eng. Jorge Rodrigues e para com a Volvo Auto-Sueco (Minho), nossos parceiros estratégicos nesta aventura de 31 anos.

Quero em meu nome e da Companhia de Teatro de Braga, manifestar à DST na pessoa do meu querido amigo Zé Teixeira, o mais profundo reconhecimento e admiração pelas acções desenvolvidas na área da Cultura. É reconfortante saber que, num momento difícil como o que estamos a viver, podemos contar com a atenção, o cuidado, o interesse e a disponibilidade da DST.

A todos muito obrigado.

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