25/11/13

Opinião de um espectador, atento, da ORESTEIA.



Adorei, mas adorei mesmo! Tudo! Foi divinal! O tema que agora vi tratado na totalidade, a representação por parte de todo o elenco (não esquecendo que é uma peça que põe à prova, pela extensão tanto dos diálogos, como de toda a encenação, qualquer actor/actriz, desafio brilhantemente superado!) – para quem não encontro palavras justas que exprimam o meu gozo e a minha satisfação por Vós proporcionados –, a encenação, o jantar (que muito bem soube) e até o facto de simultaneamente me ter sido concedida a possibilidade de conhecer o Teatro Circo melhor (nos seus vários espaços), percebendo como pode ser aproveitado no âmbito da representação teatral… Adorei tudo! O final foi surpreendentemente avassalador: a inversão dos papéis entre público e actores. Um sentimento de injustiça tremendo! Talvez a traduzir a injustiça (porque muito mais do que justo seria a homenagem ser-vos devida a todos Vós) já ardilosamente lançada pelas Imprecações de Ésquilo, depois de se sentirem injustiçadas pelo julgamento e de terem disfarçado a promessa velada, sob a máscara da ironia, de que destruiriam os Homens. E sobre aquele (o julgamento) - agora no plano das ideias em confronto -, julgo que trouxe a justiça possível (não a desejada, mas a possível…), ainda que o autor o tenha montado - parece-me - com um sentido estratégico, mostrando que a paz nem sempre pode ser construída com a guerra, como parecia ser o apelo das cenas anteriores (das Carpideiras, de Orestes, etc),  mas que, por vezes, a sensatez cumpre-se cedendo parte para que os interesses se encontrem ao centro em posição razoável, cumpridora ainda dos desígnios mais altos: os da Justiça, os da Paz e os do Progresso. Claro que não se conseguiu o propósito sem se mostrar que o cinismo e a hipocrisia (em ambas as partes) – entrelaçados com a comédia e o ridículo, presentes nas personagens finais – são tantas vezes caminhos percorridos para esquecer razões e tornar possível aquela concretização. Por opinião, compreendo, mas confesso que me custa aceitar. Provavelmente nem aceito. As Imprecações de Ésquilo estão, de facto, por todo o lado, hoje. O pouco do braço que se lhes cedeu para se tornar possível a construção da sociedade, foi sendo tomado progressivamente pelo corpo e cada vez mais se estendeu aos Homens e à Vida. As cedências já não o são mais e transformaram-se num espaço de verdadeira liberdade onde as Imprecações marcam o ritmo. Qual Estrela Polar?! Hoje, são elas que se perfilam no horizonte dos Homens a indicar as coordenadas do destino, a ponto de comandarem o mundo. Até os deuses, na figura de Apolo, talvez a personagem que hoje representaria as Instituições, estão repletos de porcaria. Defendem, na palavra, a Justiça, mas com as acções (aquelas que verdadeiramente marcam o "ser") evidenciam falsidade, maquiavelismo, perversidade,...
E os cada vez mais frequentes reconhecimentos de méritos a quem não os tem, a quem, pelo contrário, foi espectador no desenrolar dos trabalhos, inércia quantas vezes conveniente, verdadeira estratégia – que oculta incompetências e consegue benefícios/promoções –, nos jogos desta sociedade moderna, enquanto as formigas trabalhadoras, corajosas, zelosas e devotas da humildade e da qualidade, continuavam e continuam a sua obra, dando o seu labor sem que lhes seja garantida, pelo menos, a dignidade para continuarem a bater as asas nesta entrega desmaterializada?!

A caracterização de tudo esteve divinal! Dar-vos os PARABÉNS é um mínimo! Vós sois CULTURA!


Muito obrigado.
Miguel Vieira (21 de Novembro de 2013)

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