“uma vez quando perguntei ao teu pai porque é que ele tinha ido à estalagem na qual me conhecera ele disse que não sabia que fora um acaso. Foi então que o esclareci que não há acasos.”
A Companhia fecha hoje as comemorações dos seus 35 anos de actividade artística.
Cumprir 35 anos é, por si só, um acontecimento relevante. Se acordarmos que no nosso país nunca existiu (nem depois de Abril) uma verdadeira política de Cultura, sustentada num modelo alicerçado em princípios equitativos, respeitadores do todo nacional, que assumisse com clarividência as componentes animação cultural e criação artística e reconhecesse a sua importância para o desenvolvimento sustentado do país, melhor se compreenderá a odisseia e o prazer que nos dá, termos chegado hoje aqui.
O esforço que aqui nos trouxe, porque de esforço e sofrimento se tratou em tantos momentos, não foi em vão, porque foram também eles irmãos do prazer, do indescritível prazer que a coisa dá entre o espanto de experimentar vidas na Vida e a adrenalina de convivermos com o efémero. Na luta para conseguirmos e às vezes já aquilo que ninguém acredita: a invenção dum mundo! E transformarmo-nos assim na dúvida e na falha e termos consciência disso. Fazendo do palco da nossa casa o Mundo na presunção romântica.
Vida bicuda esta a nossa dos que acreditam na coisa… talvez a ideia teatro já não habite o palco talvez os que chegam já não venham para nos visitar dar um abraço partilhar amor e tristeza riso e lágrima… e às vezes espanto talvez venham só porque sim ou porque não talvez venham sós talvez venham à procura de um bocadinho vida talvez já estejam mortos ou quase…. talvez venham à espera do fim como na canção do Jorge.
Este talvez é será o que nos espicaça continuar essa constante busca do Outro em demanda de nós. Na certeza que a nossa vontade a nossa força a nossa teimosia pelo projecto está em Vós. Assim não nos sentimos condenados a não ser ao Prazer da Coisa porque acreditamos na Vida e há muito sabemos que a vida e o teatro são uma mesma coisa e que essa coisa é que é linda. Sempre na busca do Lugar e do Tempo, tentando anteciparmo-nos e querendo Mudar a Forma.
Nestes 35 anos muito mudou. O mundo mudou dizem-nos. Portugal mudou repetem-nos. Sim muito mudou por fora e pouco mudou por dentro.
Mas aqui todos temos a noção que fomos sempre até aos limites para nos fixarmos rigorosamente na margem, o melhor Lugar (o do equilíbrio) para observar os perigos dos dois lados e trabalhar sobre eles.
Hoje, 35 anos depois talvez já não acreditemos que o teatro faz revoluções mas sabemos que, pelo menos, a coisa torna melhores aqueles que o fazem. E a nossa esperança é que melhore aqueles que nos assistem.
Acreditar nas Pessoas e em cada uma é acreditar no Mundo. Interpretar-lhes o olhar e o silêncio e respeitar-lhes o silêncio. Fixar na memória o movimento dum corpo decapitado e ter tempo para escutar o grito surdo de uma mãe azeri ou nigeriana é acreditar que o teatro ainda faz sentido porque o teatro (o edifício e a acção) é um lugar e um tempo de re-humanização.
A CTB são as pessoas as nossas (as que estão hoje aqui as que estiveram ontem e no princípio e no fim, as vivas e as mortas e Todas mais adiante serão nomeadas) e aquelas tantas que vieram nos visitaram participaram nos ajudaram nos apoiaram. E Todas as Outras que ainda virão.
A CTB fixou-se em Braga com um projecto teatral que assume a cidade como plataforma de confronto artístico entre a Europa e a Lusofonia, considerando a vizinha Galiza como seu espaço natural. Depois de todos estes anos temos orgulho nos resultados obtidos mas ainda não estamos satisfeitos…
Neste Sarau, para o qual temos a honra de Vos Convidar, a CTB decidiu homenagear seis das muitas personalidades que ao longo destes 35 anos, no âmbito das suas responsabilidades políticas, empresariais, profissionais, artísticas ou outras, muito contribuíram para o êxito deste Projecto. São elas: a actriz Ana Bustorff; o artista plástico e cenógrafo Alberto Péssimo; o ex-produtor Casimiro Ribeiro; o técnico de palco Fernando Gomes; o eng. José Teixeira (Presidente do grupo dst) e o eng. Mesquita Machado.
A escolha de Jorge Palma e do seu filho Vicente Palma é também uma homenagem da CTB ao Artista e ao Amigo que ao longo dos anos tem colaborado enquanto músico, actor e compositor em vários espectáculos.
A Todas as personalidades hoje homenageadas a certeza que A VIDA VAI CONTINUAR e a todas as Outras (o Acácio e a Manuela Bronze, a Manuela Ferreira e o Ruy Anahory, o Waldemar de Sousa, o Vergílio....) que não nos esquecemos e que... outros tempos hão-de vir.
Obrigado por terem vindo. Estamos certos que a Vossa presença será um forte estímulo para o futuro.