24/10/16

Discurso de Rui Madeira no Sarau de Encerramento das Comemorações dos 35 Anos da CTB


“uma vez quando perguntei ao teu pai porque é que ele tinha ido à estalagem na qual me conhecera ele disse que não sabia que fora um acaso. Foi então que o esclareci que não há acasos.”
Thomas Bernhard in No Alvo


A Companhia fecha hoje as comemorações dos seus 35 anos de actividade artística. 

Cumprir 35 anos é, por si só, um acontecimento relevante. Se acordarmos que no nosso país nunca existiu (nem depois de Abril) uma verdadeira política de Cultura, sustentada num modelo alicerçado em princípios equitativos, respeitadores do todo nacional, que assumisse com clarividência as componentes animação cultural e criação artística e reconhecesse a sua importância para o desenvolvimento sustentado do país, melhor se compreenderá a odisseia e o prazer que nos dá, termos chegado hoje aqui.

O esforço que aqui nos trouxe, porque de esforço e sofrimento se tratou em tantos momentos, não foi em vão, porque foram também eles irmãos do prazer, do indescritível prazer que a coisa dá entre o espanto de experimentar vidas na Vida e a adrenalina de convivermos com o efémero. Na luta para conseguirmos e às vezes já aquilo que ninguém acredita: a invenção dum mundo! E transformarmo-nos assim na dúvida e na falha e termos consciência disso. Fazendo do palco da nossa casa o Mundo na presunção romântica.

Vida bicuda esta a nossa dos que acreditam na coisa… talvez a ideia teatro já não habite o palco talvez os que chegam já não venham para nos visitar dar um abraço partilhar amor e tristeza riso e lágrima… e às vezes espanto talvez venham só porque sim ou porque não talvez venham sós talvez venham à procura de um bocadinho vida talvez já estejam mortos ou quase…. talvez venham à espera do fim como na canção do Jorge.

Este talvez é será o que nos espicaça continuar essa constante busca do Outro em demanda de nós. Na certeza que a nossa vontade a nossa força a nossa teimosia pelo projecto está em Vós. Assim não nos sentimos condenados a não ser ao Prazer da Coisa porque acreditamos na Vida e há muito sabemos que a vida e o teatro são uma mesma coisa e que essa coisa é que é linda. Sempre na busca do Lugar e do Tempo, tentando anteciparmo-nos e querendo Mudar a Forma.

Nestes 35 anos muito mudou. O mundo mudou dizem-nos. Portugal mudou repetem-nos. Sim muito mudou por fora e pouco mudou por dentro. 

Mas aqui todos temos a noção que fomos sempre até aos limites para nos fixarmos rigorosamente na margem, o melhor Lugar (o do equilíbrio) para observar os perigos dos dois lados e trabalhar sobre eles.

Hoje, 35 anos depois talvez já não acreditemos que o teatro faz revoluções mas sabemos que, pelo menos, a coisa torna melhores aqueles que o fazem. E a nossa esperança é que melhore aqueles que nos assistem.

Acreditar nas Pessoas e em cada uma é acreditar no Mundo. Interpretar-lhes o olhar e o silêncio e respeitar-lhes o silêncio. Fixar na memória o movimento dum corpo decapitado e ter tempo para escutar o grito surdo de uma mãe azeri ou nigeriana é acreditar que o teatro ainda faz sentido porque o teatro (o edifício e a acção) é um lugar e um tempo de re-humanização.

A CTB são as pessoas as nossas (as que estão hoje aqui as que estiveram ontem e no princípio e no fim, as vivas e as mortas e Todas mais adiante serão nomeadas) e aquelas tantas que vieram nos visitaram participaram nos ajudaram nos apoiaram. E Todas as Outras que ainda virão.

A CTB fixou-se em Braga com um projecto teatral que assume a cidade como plataforma de confronto artístico entre a Europa e a Lusofonia, considerando a vizinha Galiza como seu espaço natural. Depois de todos estes anos temos orgulho nos resultados obtidos mas ainda não estamos satisfeitos…

Neste Sarau, para o qual temos a honra de Vos Convidar, a CTB decidiu homenagear seis das muitas personalidades que ao longo destes 35 anos, no âmbito das suas responsabilidades políticas, empresariais, profissionais, artísticas ou outras, muito contribuíram para o êxito deste Projecto. São elas: a actriz Ana Bustorff; o artista plástico e cenógrafo Alberto Péssimo; o ex-produtor Casimiro Ribeiro; o técnico de palco Fernando Gomes; o eng. José Teixeira (Presidente do grupo dst) e o eng. Mesquita Machado.

A escolha de Jorge Palma e do seu filho Vicente Palma é também uma homenagem da CTB ao Artista e ao Amigo que ao longo dos anos tem colaborado enquanto músico, actor e compositor em vários espectáculos.

A Todas as personalidades hoje homenageadas a certeza que A VIDA VAI CONTINUAR e a todas as Outras (o Acácio e a Manuela Bronze, a Manuela Ferreira e o Ruy Anahory, o Waldemar de Sousa, o Vergílio....) que não nos esquecemos e que... outros tempos hão-de vir.

Obrigado por terem vindo. Estamos certos que a Vossa presença será um forte estímulo para o futuro.

Rui Madeira, director

21 de Outubro de 2016, Theatro Circo, Braga.

Jorge Palma (Coliseu 2007) - #13 - "A Gente Vai Continuar"

15/10/16

Apresentação pública do trabalho desenvolvido na Oficina de Movimento e Rítmo


No dia 17 de outubro, às 15h00, no espaço da CERCI Braga, será feita uma apresentação para familiares e amigos dos alunos o resultado da Oficina de Movimento e Ritmo. Esta oficina, realizada no âmbito do projeto BragaCullt3 - dar a volta à cabeça, propõe-se desenvolver atividades dinâmicas de exploração corporal rítmica que estimulem a perceção atuante e expressiva do corpo através de exercícios de movimento associados à dança e ao ritmo-percussão.

Durante 30 horas ao longo de mais de um mês (7 de setembro a 17 de outubro), Rogério Boane, ator da CTB e coordenador desta oficina, trabalhou com 15 utentes da CERCI Braga proporcionando-lhes um contacto lúdico e disciplinado com o movimento e com princípios de natureza musical, em particular a percussão.

Segunda-feira, estes jovens e adultos apresentam os resultados desta oficina que tem por objetivos explorar o potencial criativo do corpo para desenvolver a autoexpressão, aumentar a autoestima dos participantes através da expressão corporal e rítmica, e promover a tomada de consciência do movimento e do ritmo do corpo.


            Esta foi a primeira de três ações que esta oficina vai realizar no triénio 2016-2018. Destina-se a um público-alvo a partir dos 12 anos; alunos do ensino básico, secundário e universitário; jovens em risco de abandono escolar; jovens com comportamentos de risco; jovens com necessidades educativas especiais; pessoas com multideficiência; imigrantes e minorias étnicas; pessoas em processo de recuperação de dependências; pessoas em risco ou em situação de exclusão social.

10/10/16

Jorge Palma e Vicente Palma atuam no Encerramento das Comemorações dos 35 Anos da CTB

Para o encerramento das Comemorações dos 35 anos de atividade, a CTB convida alguém que marcou indelevelmente esta história de mais de três décadas, compondo músicas para espetáculos ou participando como ator/cantor. 



Com Jorge Palma virá Vicente Palma (que também faz parte desta história) e que surge na guitarra, no piano ou na voz, acompanhando o pai em alguns dos temas que juntos já tocam há mais de uma década. O espetáculo será no dia 21 de outubro, às 21h30, no Theatro Circo

Em 1980, era criada, no Porto, uma estrutura profissional de teatro: CENA. No âmbito de um projeto artístico e de um protocolo estabelecido com a Autarquia de Braga mudou-se, em 1984, para a Cidade dos Arcebispos e mudou também o nome para CTB – Companhia de Teatro de Braga.

Entretanto passaram 35 anos, e 129 produções, de um projeto artístico que cruza o sempre renovado interesse pelas novas dramaturgias com a experimentação, através da nossa prática teatral, sobre o grande legado dramatúrgico da humanidade – os clássicos.

Para Rui Madeira, diretor da Companhia, “a Comemoração dos 35 anos da CTB é, acima de tudo, a Comemoração das Pessoas, as nossas (as que estão hoje Aqui, as que estiveram ontem e no princípio e no fim. As vivas e as mortas e TODAS mais adiante serão nomeadas).”

É, por isso, também um tempo de homenagem a seis personalidades que cruzaram os seus caminhos com o nosso, ajudando-nos a construir a história da Companhia de Teatro de Braga.

06/10/16

Discurso de Vergílio Alberto Vieira no almoço em Braga do 82º PEN International

No dia 30 de setembro, passaram por Braga cerca de 140 participantes (escritores, dramaturgos, jornalistas, poetas, etc.) do 82º Congresso PEN International, que se realizou na cidade galega de Ourense.
Durante o almoço o escritor, poeta, dramaturgo e Amigo da Companhia de Teatro de Braga, Vergílio Alberto Vieira, brindou os convivas com este belíssimo texto que merece ser partilhado.


Com a presença de tão ilustres escritores numa das mais antigas cidades ibéricas a que chegaram legiões romanas, séculos depois de visitada por Celtas e Suevos, que escolheram para morar, Braga tem hoje boas razões para vos proporcionar, não apenas a visita aos lugares históricos que enaltecem o seu património cultural e urbano, mas a convivência coma a lingua portuguesa, legado inestimável do cosmopolitismo que caracterizou a epopeia marítima cantada em Os Lusíadas, de Camões.

A Língua que falámos, e em que escrevemos, sendo o nosso maior bem, e a pedra de toque de uma universalidade que ecoa em todos os continentes, é como das línguas maternas reconheceu Alfred
Döblin, escritor que, acossado pelo nazismo, passou por Portugal a caminho da diáspora: "(..) uma forma de amar os outros."

Num tempo em que os sinais de degradação histórica intimam o escritor a estar vigilante, e a ser testemunha irrefutável no processo para que o tribunal das memórias nos convoca, nenhum de nós poderá sentir-se bem consigo, nem com o mundo, se por comodidade ou indiferença não responder à chamada para a qual a resistência ética de que falava Emmanuel Levinas conta connosco.

Assim sendo, permitam-me exortar-vos à conciliação num momento em que a história das nações mais se sente ameaçada, num tempo em que cada pátria em que nascemos nos leva a admitir que todos os povos estão à beira de morrer como país.

Nessa ordem de ideias, se ao tempo de Monsenhor Della Casa "a experiência do escritor era considerada "um estado de guerra", não o será, pois, menos actualmente, não o foi menos ontem, quando alguém gritava em Alepo: "O silêncio do mundo está a matar.-nos."

Termino apelando a todos os presentes que é chegado o tempo de: dizer não o que é preciso, mas que é preciso; que todas as vidas, como lembrou clarice Lispector, são "vidas heróicas"; e todos os povos aquilo que são as suas memórias, a sua memória profunda.

Contando com a vossa benevolência, evoco Camões, o poeta que exaltou o povo que se aventurou a dar novos mundos ao mundo para - diria ele: na vossa lustrosa e grata companhia - considerar que:

"Já deve bastar o que aqui digo para dar a entender o que mais calo."

05/10/16

Residência artística de exploração de som e vídeo na Estação de Braga

Nils Meisel e Frederico Madeira desvendam algumas das ideias que se propõem explorar na residência artística, que desde o início de setembro, tem explorado a vida da Estação de Braga.




Esta residência pretende construir uma narrativa audiovisual, de carater experimental, que demonstre a dialética entre aquilo que é constante e o que é transitório na interação das pessoas (“habitantes”) com o espaço da Estação de Braga (nos edifícios antigo e novo) e/ou com os espaços circundantes à própria Estação.
Durante dois meses, Nils (som) e Frederico (vídeo) farão a recolha das imagens e dos sons que constroem a vida da Estação e que se mistura com a vida dos seus “habitantes”: a chegada, a partida, a espera. Esse material será, obviamente, filtrado e construída uma sequência em que o som e a imagem mantêm um diálogo permanente, contudo, funcionando, quase sempre, como unidades independentes uma da outra.
Deste trabalho resultará uma curta-metragem que a ser apresentada em pequenos festivais ou mostras nos espaços da Estação ou outros, de forma idêntica ao que já foi feito na iniciativa Mostra’Cidade / A Rua Vestida, do projeto BragaCult.
No decorrer do trabalho serão feitas atualizações que darão conta do progresso deste projeto nas redes sociais da CTB e/ou num blog próprio [Pombas Pombas].
Edifício Antigo da Estação de Braga (foto: João Vilares)

Maria Augusta Produções  – CTB
A CTB tem vindo a apostar na área da formação (oficinas) e cada vez mais nos novos media, como complemento da sua programação teatral. Isto tem-se mostrado vantajoso, quer na formação de novos públicos, quer no estabelecimento de novas convivências com artistas e criadores vários, cujo percurso está ou esteve de alguma forma ligado à Companhia, mas que trabalham em áreas que abrangem não só a prática teatral, mas também a Literatura, as Artes Plásticas, o Som, o Vídeo, etc. Em sequência deste processo, propõe-se agora a CTB programar uma série de residências, a acontecer no espaço da Antiga Estação de Braga.É também desejável que exista nestas mostras uma maior conexão entre a CTB e outras instituições em Braga, como o GNRation e o espaço Projectil e que estes possam cooperar com projetos em conjunto.

Nils Meisel
Nasceu em Münster, em 1981. Vive e trabalha no Porto, Estugarda e Berlim.É um artista convidado da CTB. Participou como músico na produção de “Os Desaparecidos”, co-produção entre a O-Team, Pathos München e Companhia de Teatro de Braga.Licenciado em som & imagem e com mestrado em Design de Som, conservatório de Piano e outros estudos musicais.Trabalha na área de som abrangendo a composição musical, experimentação, interatividade, teatro e performance.Site: http://nilsmeisel.tumblr.com/