Durante o almoço o escritor, poeta, dramaturgo e Amigo da Companhia de Teatro de Braga, Vergílio Alberto Vieira, brindou os convivas com este belíssimo texto que merece ser partilhado.
Com a presença de tão ilustres escritores numa das mais antigas cidades ibéricas a que chegaram legiões romanas, séculos depois de visitada por Celtas e Suevos, que escolheram para morar, Braga tem hoje boas razões para vos proporcionar, não apenas a visita aos lugares históricos que enaltecem o seu património cultural e urbano, mas a convivência coma a lingua portuguesa, legado inestimável do cosmopolitismo que caracterizou a epopeia marítima cantada em Os Lusíadas, de Camões.
A Língua que falámos, e em que escrevemos, sendo o nosso maior bem, e a pedra de toque de uma universalidade que ecoa em todos os continentes, é como das línguas maternas reconheceu Alfred
Döblin, escritor que, acossado pelo nazismo, passou por Portugal a caminho da diáspora: "(..) uma forma de amar os outros."
Num tempo em que os sinais de degradação histórica intimam o escritor a estar vigilante, e a ser testemunha irrefutável no processo para que o tribunal das memórias nos convoca, nenhum de nós poderá sentir-se bem consigo, nem com o mundo, se por comodidade ou indiferença não responder à chamada para a qual a resistência ética de que falava Emmanuel Levinas conta connosco.
Assim sendo, permitam-me exortar-vos à conciliação num momento em que a história das nações mais se sente ameaçada, num tempo em que cada pátria em que nascemos nos leva a admitir que todos os povos estão à beira de morrer como país.
Nessa ordem de ideias, se ao tempo de Monsenhor Della Casa "a experiência do escritor era considerada "um estado de guerra", não o será, pois, menos actualmente, não o foi menos ontem, quando alguém gritava em Alepo: "O silêncio do mundo está a matar.-nos."
Termino apelando a todos os presentes que é chegado o tempo de: dizer não o que é preciso, mas que é preciso; que todas as vidas, como lembrou clarice Lispector, são "vidas heróicas"; e todos os povos aquilo que são as suas memórias, a sua memória profunda.
Contando com a vossa benevolência, evoco Camões, o poeta que exaltou o povo que se aventurou a dar novos mundos ao mundo para - diria ele: na vossa lustrosa e grata companhia - considerar que:
"Já deve bastar o que aqui digo para dar a entender o que mais calo."
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