07/06/11
Investimento em Cultura no Distrito de Braga
A CTB - Companhia de Teatro de Braga publica o texto da Ministra da Cultura, Gabriela Canavilhas, publicado na edição de 3 de Junho do jornal Correio do Minho e subsequente resposta do director da CTB, Rui Madeira, publicada na edição de hoje, 7 de Junho, do mesmo jornal.
Ao abrigo e nos termos da Lei do Direito de Resposta recebemos da Ministra da Cultura, Gabriela Canavilhas, o seguinte texto que a seguir transcrevemos na íntegra:
“O Correio do Minho deu importante destaque à cerimónia realizada no Theatro Circo de Braga no passado dia 27 de Maio, pelo qual fui informada que a Companhia de Teatro de Braga (CTB) e a DST assinaram um protocolo de apoio financeiro de 50.000 € para o biénio 11/12. Relata o CM as críticas feitas pelo director da Companhia à Ministra da Cultura e actual candidata pelo PS pelo círculo de Braga, pela ausência nessa cerimónia, considerada “um erro terrível o desprezo que dá à cultura”. A confusão entre candidata e ainda membro do Governo é aqui criada pelos protagonistas desta cerimónia, situação que tenho tentado evitar com todo o cuidado e respeito pela separação de funções.
Na verdade, como Ministra da Cultura, recebi um convite para estar presente na apresentação da Curta Metragem “Os Maias”, no Theatro Circo, convite que não pude aceitar porque, no mesmo dia e hora, tinha já aceite previamente o convite para comparecer à inauguração da 34ª edição do Festival Internacional de Teatro de Expressão Ibérica, na cidade do Porto. Em nenhuma ocasião me foi transmitido que seria também assinado um protocolo de apoio mecenático entre a DST e a CTB, facto que foi omisso no convite. De resto, tenho acompanhado com satisfação a crescente relação com a Cultura que a DST tem vindo a sedimentar, facto que muito me apraz registar e que demonstra como muito do esforço do Estado em prol da Cultura tem sido seguido pelo sector privado, que complementa e reforça a vasta rede de parcerias em que assenta a acção do Ministério da Cultura.
Na verdade, a importância que o Estado dá à Cultura, no que ao distrito de Braga respeita, representa na última década, e com especial reforço nos últimos 6 anos, 44,5 milhões de euros de investimento em Património, Arquivos, artes performativas, actividades amadoras, bibliotecas e acções de promoção da leitura, apoio aos cineclubes, entre muitas outras, O alegado “desprezo” que o Estado dá à Cultura, no que ao Theatro Circo respeita, representa, só em apoios à sua Companhia, 2.441.810,00, quase 2,5 Milhões de euros em 10 anos! E que, nos últimos governos de Sócrates, representaram 1.543.974,00 €. Sem contar ainda com os 5.596.563,00 € com que o Ministério da Cultura financiou as obras de requalificação e a programação inicial do Theatro Circo. Em dez anos, este importante equipamento e a sua Companhia, beneficiaram de mais de 8 milhões de euros do Ministério da Cultura, a quem o seu director acusa de “desprezar a cultura”.
Rui Madeira agradece a minha ausência na cerimónia, mas esquece-se de agradecer ao Estado por este ser o garante da actividade da CTB; e esquece-se que o Ministério da Cultura tem estado sempre (e sempre estará) como suporte estrutural da produção cultural do nosso país e como o principal financiador da Companhia que dirige. Esquece-se que sem o Ministério da Cultura, não existiria a CTB. Ficava-lhe bem este reconhecimento.
Gabriela Canavilhas
Ministra da Cultura"
Ao abrigo e nos termos da Lei do Direito de Resposta, e na sequência do texto da Ministra da Cultura, Gabriela anavilhas, publicado na edição de 3 de Junho do Correio do Minho, Rui Madeira enviou no passado dia 3 de Junho a seguinte resposta que a seguir transcrevemos:
“A senhora Ministra da Cultura decidiu “responder” a intervenções havidas na cerimónia realizada no Teatro Circo por ocasião da assinatura de um protocolo entre a DST e a CTB, no âmbito do Estatuto dos Benefícios Fiscais (vulgarmente chamada Lei do Mecenato, que de facto não existe). Aproveita ali, a senhora Ministra, para se justificar sobre a ausência e, no seguimento do que tem sido a sua intervenção política enquanto Ministra, apresentar argumentos de prestidigitação, utilizando palavras e números que, como a senhora Ministra bem sabe, só convencem os incautos e não aguentam qualquer análise política séria. Passemos então aos factos, afirmando desde já, que esta questão não se esgotará aqui e agora. Estamos em fim de período eleitoral, logo, este não será o momento certo para analisarmos com mais profundidade o que foi o descalabro político do Ministério da Cultura nos últimos anos.
Sobre os argumentos da senhora Ministra, cumpre-me a minha honra, a minha vida profissional, a história de 32 anos de Companhia e o entendimento que faço da Cidadania, responder o seguinte:
1. Em nenhum momento da cerimónia eu utilizei a frase “um erro terrível o desprezo que dá à Cultura”. O texto que li, está escrito. A senhora Ministra pode lê-lo no site da CTB (http://www.ctb.pt). Deve lê-lo e pode aproveitar para consultar a carta que lhe enviei em 07.03 do corrente a solicitar uma reunião urgente, que não tive resposta, após receber a Acta da decisão do douto júri de análise das Candidaturas referente à CTB para o biénio 2011/12. Esta lá todo o processo. E vale a pena ser lido. Não fui eu que convidei a senhora Ministra, aliás não a convidaria. E foi exactamente por isso que no meu texto referi, “que não estávamos sós, mas também não estávamos mal acompanhados”. É verdade Senhora Ministra, entendo que o seu trabalho à frente do Ministério foi uma tragédia. Uma completa falta de rumo e de estratégia. E isso verifica-se em todas as medidas avulsas tomadas no âmbito das artes do palco. Foi tudo um rotundo zero, um constante ziguezaguear entre o discurso, com alguns conteúdos programáticos, sobre o que gostaria de fazer e o vazio concreto das políticas. Dos equipamentos aos seus financiamentos, da internacionalização (veja-se o caso da Cena Lusófona) ao estatuto profissional dos artistas, da circulação ao apoio à criação. Na ausência de medidas que ajudassem a suster a crise que já existia “antes da crise”. Nada. E a senhora sabe, por mais que afirme com alguma sobranceria que a caracteriza, que “a expressão falta de estratégia é usada por quem não consegue identificar do que realmente se queixa…” como afirmou há dias a um diário.
2. Percebo o tempo político e a intenção que a leva a aproveitar o momento para falar do investimento na Cultura na última década. Seria melhor que desintegrasse os números e os cingisse ao seu mandato. Ou porque não alargá-los então aos últimos quinze? É que a situação em que a senhora vai deixar o sector só tem paralelo no início dos anos oitenta. E nessa década não havia os equipamentos de hoje. Mas sabe tão bem como nós que o problema da criação artística em Portugal, não se resolve, distribuindo menos por mais gente. Resolve-se com decisão política, objectivos programáticos. Estratégia. E isso faltou no seu tempo.
3. Nunca falei de “desprezo” mas sinceramente penso que o Estado ao distribuir pseudo financiamentos que mais não garantem que a sobrevivência, numa lógica apenas eleitoralista e de capelas, assume uma atitude de desprezo para com os dinheiros públicos. Vejamos o caso específico da CTB que traz à colação. A sua senhora Ministra faz malabarismo com os números e sabe que faz. A CTB recebeu nos últimos 10 anos do Ministério da Cultura 2.345.655.76€ e não “os quase dois milhões e meio” que afirma. É que em alturas de crise 140 mil euros contam… mas também sabe, ou devia saber, que os financiamentos anuais do Ministério à CTB nunca foram além dos 60% do nosso orçamento. E sabe que no último ano o seu Ministério numa acção conjunta com o seu Director-Geral das Artes (o tal que afirma que o Primeiro-Ministro não tem política cultural) cortou o financiamento à CTB em cerca de 83 000€, ou seja, recolocou-nos no ano de 1985. E as razões desse corte foram sérias? Foram por razões artísticas, por falta de profissionalismo, por demérito da equipa artística e dos criadores? Não! Foram “marteladas”, justificadas com argumentos peregrinos, como se pode ler (também no site) na Acta de resposta do Júri, à nossa Audiência de Interessados. E fica-lhe mal insinuar que o financiamento que outros Ministros atribuíram ao projecto de restauro do
Teatro Circo, na ordem dos 5.596.563.00 €, seja “indexado” no apoio à CTB. Não confunda. A Companhia passou este ano, após o corte (foi a estrutura a norte mais penalizada) para um financiamento de 153.573.52€. E a CTB, com os seus 16 elementos é das estruturas de criação artísticas nacionais que mais quadros têm na segurança social (11), coisa de somenos importância para o Ministério como sabe.
4. O Rui Madeira “agradeceu vivamente” a ausência da Ministra na cerimónia, porque o Rui Madeira entende que os ministros e as ministras não servem para abrilhantar cocktails. Servem para fazer Política, para defender o País, para afirmar objectivos e fazê-los cumprir. Servem para levar a bom porto um desígnio nacional de afirmação e orgulho de sermos uma nação com História. E a Cultura é um sector estratégico para esse desígnio e essa afirmação. E a senhora não cumpriu um nem outro. Uma diferença significativa, no meio destas argumentações de momento é que, até esta data, a Companhia de Teatro de Braga não falhou nenhum compromisso relativamente ao projecto apresentado e protocolado com o Ministério e o Ministério, como sabe, não pode afirmar o mesmo.
Resta-me afirmar que a minha discordância com a senhora Ministra é de ordem política. Voltaremos a estes temas depois das eleições.
Rui Madeira,
director Companhia de Teatro de Braga”
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