17/05/18

CTB tem um dos maiores cortes no financiamento da DGArtes


Relativamente à notícia da Agência Lusa, partilhada por alguns órgãos de comunicação social (como, por exemplo, o Diário de Notícias) gostaríamos de esclarecer que, não obstante ser verdade a Companhia de Teatro de Braga (CTB) ser uma das quatro companhias, em termos globais, com maior financiamento, é também uma das duas companhias que para este quadriénio sofreram o maior corte comparativamente ao quadriénio anterior. A Companhia de Teatro de Almada teve um corte de 22% e a CTB um corte de 14% (representa cerca de 180 mil euros). Mais dizemos, que o orçamento para 2018 é de 267 mil euros, não os 288 mil euros noticiados.

Relembramos que apesar de até ao momento não termos recebido qualquer verba do financiamento atribuído (resultados para o Teatro só foram homologados esta terça-feira) a CTB tem vindo a cumprir escrupulosamente a actividade a que se propôs na candidatura. Esta semana estreamos “Diário de Adão e Eva”, o segunda estreia deste ano. Fizemos, também, cerca de 40 representações, entre reposições e acolhimentos, no Theatro Circo de Braga e em diversas salas de Portugal e Espanha.

A circunstância do corte no financiamento da CTB conduziu à inevitabilidade da reestruturação - na qual estamos já a trabalhar - de toda a actividade da companhia (novas produções, reposições, acolhimentos, formação de públicos, etc.).

Partilhamos, aqui, a nossa argumentação para a Audiência de Interessados da DGArtes e a resposta que obtivemos.




Audiência de interessados

Venho requerer a V. Exa., em nome da Companhia de Teatro de Braga, a participação no âmbito de Audiência de Interessados, relativa ao processo concursal, sobre Programa da Apoio Sustentado - Teatro, em curso.

da história:
A Companhia de Teatro de Braga, crl. é uma estrutura de criação teatral, com 38 anos de actividade permanente, residente no Theatro Circo, um dos mais importantes teatros do país. Companhia de repertório, talvez a única no país. Mantem nos seus quadros artísticos, técnicos e de gestão, cerca de 22 pessoas permanentes. Destes, 19 são licenciados e cerca de 50% são mulheres. Manteve e mantém projectos de intercâmbio, parceria e co-produção, com várias estruturas de criação e criadores na Europa e nos países Lusófonos de expressão portuguesa. Por aqui passaram mais de 620 artistas nacionais e estrangeiros;135 produções; 4500 representações; mais de 650 000 espectadores; 10 projectos plurianuais de formação de públicos, para mais de 12 000 destinatários directos; 13 co-produções com estruturas nacionais e estrangeiras. Apresenta-se regularmente em Portugal, Espanha, França, Itália, Alemanha, Inglaterra, Roménia. Ucrânia, Brasil, Angola, Moçambique, São Tomé e Príncipe, Guiné, Zimbabué. Mantém a prática de convidar anualmente artistas nacionais e estrangeiros. Além das novas criações anuais, mantem em repertório por ano cerca de 9/10 criações em reposição. Mantem relações regulares de parceria em vários projectos com 11 organismos e instituições da Cidade. E com os Municípios de Barcelos, Vila Verde, Ponte de Lima, Felgueiras, para programação das suas actividades naquelas cidades. Com 10 estruturas nacionais de criação, no âmbito de uma plataforma informal de companhias. Internacionalmente com 8 estruturas de criação de Espanha (Badajoz, Cáceres, Sevilha, Valência, Saragoça, Santiago, Astúrias e Ourense) no âmbito do Circuito Ibérico de Artes Cénicas que congrega outras 7 estruturas nacionais. Com o Teatro de Kherson e Festival Internacional Melphonema Travyy/ Ucrânia. Grupo Tapa e Festival Yesu Luso, de São Paulo / Brasil; Grupo Ó-Time de Stuttgart / Alemanha; Akroama- Teatro Stábilé d’Innovazione da Sardegna/Itália; FIT-Festival Internacional de Teatro de Habana/Cuba; Dramafest e Companhia Teatro Babel / México.
2. A CTB propôs-se realizar neste quadriénio 18 novas criações (destas 6 em co-produções internacionais: Alemanha; Itália; Ucrânia; México, Brasil e Cuba). Manter em repertório cerca de 9 espectáculos /ano. Na formação de Públicos cerca de 18 acções/ano, incluindo residências. Fora do Concurso realizará ainda este ano uma co-produção bilingue com a Roménia (Teatro de Piatra Neamt, dirigido por Gianina Carbunariu), com texto inédito de Abel Neves, e a participação da actriz romena Nora Covali e do actor moçambicano da CTB, Rogério Boane, com direcção de Rui Madeira.
3. Neste quadriénio é relevante o quadro de criadores estrangeiros convidados, quer na criação, quer nas Residências, quer na Formação de Públicos, quer quanto às ligações internacionais da CTB.

da política:
A CTB participou em todos os momentos da discussão sobre o novo Modelo de Apoio às Artes e em todos eles manifestou de modo claro, franco e frontal a sua posição. Fosse em momentos de reunião directa com os responsáveis da tutela, fosse em sede de questionário ao sector. As posições da CTB assentaram sempre em 3 princípios: equidade, transparência e exigência de meios financeiros e humanos nas estruturas directamente dependentes (DGArtes).  Só isso pode garantir um Modelo de Apoio às estruturas que cumpra os desígnios de uma política de Cultura democrática, contributiva para a elevação e qualidade da Cidadania. Onde a criação artística seja um hábito de práticas contemporâneas nas cidades médias e ajudem ao seu crescimento sustentado.
A CTB sempre se manifestou então sobre a impossibilidade de se pretender combater a precariedade laboral e a reestruturação do sector a partir das estruturas privadas (na verdade, as estruturas do 3º sector, nós, que contratualizamos serviço público), sem se “mexer” (e quiçá aumentar) no sector público e sem uma dotação orçamental que sustentasse o discurso político e os objectivos assumidos. Sempre manifestamos a importância dos Júris e defendemos a sua permanência durante o período da legislatura. Afirmamos (e a realidade deu-nos razão) que este Modelo ia ao arrepio daqueles objectivos. Estivemos e estamos contra, mas temos consciência que o aceitamos implicitamente.

da ética:
A CTB nunca utilizou a faculdade garantida em Audiência de Interessados, de “vasculhar” candidaturas na esperança mórbida de “sorver” algum pecúlio em seu favor. Entendemos que o meio é tão frágil, tão corporativo ainda e tão propício à inveja, que com os parcos meios financeiros disponíveis, este acto só acentua o caracter miserabilista em que sucessivos governos nos colocaram, a nós criadores, aos Júris e à própria tutela. Recusamos pois essa faculdade.
A CTB confessa também que não organizou a Candidatura tendo como base a fórmula matemática que garante a pontuação final dos critérios de apreciação. A nossa preocupação primeira, em todos os concursos, é conseguir “encaixar” em formulários cada vez mais abstrusos, (sob a capa de mais facilitadores e amigos) o projecto artístico e de gestão de uma estrutura com história e futuro. Na esperança que os resultados finais consigam, de algum modo fazer justiça a esse passado, que contará pouco e sobretudo ao futuro. E, apesar das vicissitudes, que as há, ainda acreditamos que a nossa postura está certa.

dos factos:
Neste contexto, passemos então aos factos, que julgamos fundamental, referir nesta sede de Audiência, tendo por base argumentativa apenas a Candidatura da CTB e a respectiva Acta do Júri.
1. A CTB não conseguiu incluir de modo transparente os recursos humanos que integram a estrutura e estão na segurança social. E são 11 pessoas. E na Candidatura propomos mais 2 pessoas (jovens actores). Se falamos de combate à precariedade… Porque a plataforma não aceita esse facto. Foram assim, de modo artificioso “diluídos” nas várias actividades, como se de um somatório casuístico de projectos pontuais se tratasse. A CTB não conseguiu explanar o seu plano e projecto de Comunicação Global, como seria expectável numa estrutura da natureza da nossa: uma companhia e aqui o conceito faz toda a diferença. Não havia simplesmente, espaço para tal. Destes factos demos conta na própria Candidatura. A CTB não viu referida a circulação nacional e internacional, proposta, que consideramos significativa, até pelo histórico da companhia neste âmbito. Menos importância damos, mas sentimos um pouco que não se valorize o facto de existirmos há 38 anos…
Importante mesmo para a CTB é o facto de termos solicitado 1.599.000€ e termos sido contemplados com 1.151.900€. No quadriénio anterior fomos financiados em 1.331.790€. Sofremos, deste modo, um corte de cerca 180.000€, relativamente ao quadriénio anterior. Parece pouco, mas para uma estrutura como a CTB é dramático. Aqui todos os cêntimos contam. Temos encargos sociais significativos, relativos à Segurança Social e Impostos. Com este corte e nenhum aumento, o que está em causa são postos de trabalho de 3/4 pessoas.

A CTB cumpriu desde 1 de Janeiro do corrente ano, tudo o que se propôs na Candidatura. Este apoio financeiro cria-nos imensa dificuldade de gestão, a que não sabemos ainda responder. E não deixa de parecer absurdo o facto de um Concurso para um Programa de apoio sustentado ao Teatro que visa nos seus objectivos “garantir apoio às estruturas com actividade continuada visando a sua estabilidade e consolidação”, descambe para a situação actual. O nosso conceito de Companhia não é o de projecto pontual. Tem custos e pessoas. E um apoio de 1.151.000€, neste contexto pode ser muito menor do que qualquer outra que tenha 3 ou quatro pessoas na estrutura fixa e receba 750 000€. O Estado é, no nosso caso, o primeiro beneficiário, graças ao retorno em impostos. Esta matéria também pode ser analisada.
Finalizamos esta argumentação solicitando, pelo menos, a reposição do financiamento do quadriénio anterior.

Com os melhores cumprimentos
Rui Madeira, director



Resposta da DGArtes


CTB - Companhia de Teatro de Braga, CRL | FRONTEIRAS

Relativamente à pronuncia apresentada em sede de audiência de interessados por esta candidata, onde é contestado o facto de não ter conseguido colocar devidamente toda a informação referente às equipas e ao plano de comunicação no formulário de candidatura e alega não existir na fundamentação do projecto de decisão menção à circulação nacional e internacional, não solicita a revisão da pontuação atribuída. Em contraponto, a candidata solícita a reposição do financiamento do quadriénio anterior. Cabe esclarecer que a legislação inerente a este concurso não é idêntica à do apoio indirecto Acordo Tripartido que a entidade recebeu em 2013-2016, dado que estávamos perante uma modalidade de apoio distinta do concurso público e que era implementado num contexto muito próprio, como era, nomeadamente, a vertente de intervenção das autarquias locais. Entendemos, assim, que não pode ser aceite a simples solicitação de reposição do valor anteriormente atribuído sem qualquer alteração de fundamentos ou factos que forçassem uma alteração de pontuação.

Neste sentido, a Comissão não encontra na contestação apresentada, fundamentos relevantes que contribuam para uma reapreciação da pontuação atribuída à candidatura no projecto de decisão.
  

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